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Pacientes ficam em cadeiras porque não há mais leitos (Foto: Rafael Melo/G1) |
Pacientes ficam internados em cadeiras pois não há leitos suficientes.
Diretoria quer hospital de suporte e que pacientes sejam atendidos em PSF.
Segundo o diretor técnico do Trauma, Flawbert Cruz, são realizados no local cerca de 10 mil procedimentos de consultas por mês e a unidade só comporta 40% desse total.
Ele também disse que se internam todos os meses entre 1.500 e 2 mil pacientes quando a capacidade máxima seria de até mil internações por mês.
São 260 leitos no total e 60% dos atendimentos são de casos que não deveriam ser atendidos no local.
Ainda segundo ele, o máximo de cirurgias que deveriam ser feitas é de 600 e estão sendo realizadas 800. Já os exames de tomografia não poderiam ultrapassar os 500 por mês e totalizam uma média de 900.
Ele explicou que a unidade atende aos pacientes em quatro níveis de
risco diferentes, que são classificados em cores que apontam a gravidade
da doença. Os casos das alas verde e azul são geralmente problemas que
poderiam ser atendidos em Unidades Básicas de Saúde ou em hospitais
menores.
O clínico geral José Ricardo Cavalcanti, responsável por fazer a
primeira avaliação dos pacientes, esclareceu quais são os tipos de
doença. "Dor de garganta, diarreia, náusea, enjoo, doenças crônicas,
febre, desidratação, hipertensão, dor torácica e cansaço são doenças que
não fazem parte da especialidade de uma emergência e são os mais comuns
neste local", disse.
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Marcos foi orientado no hospital a procurar atendimento em outro lugar (Foto: Rafael Melo/G1) |
Após esperar quase três horas ele foi informado por uma enfermeira que deveria procurar atendimento em um local que não fosse de emergência. "Se eu soubesse não teria vindo aqui, teria ido direto para a UPA", disse.
Um levantamento feito pela assessoria de imprensa do hospital mostrou
que nas alas vermelha e amarela, onde se concentram os casos mais
graves, a superlotação chega a quase o triplo da capacidade.
Na ala
vermelha são apenas sete leitos, mas há 20 ocupantes. Já na ala amarela
são 26 leitos. Pacientes, no entanto, somam 70. Como não há espaço para
todo mundo, os doentes aguardam sentados em cadeiras até que um paciente
vague um dos leitos.
"Parece um estacionamento, é um atrás do outro
esperando que o que está na cama receba alta ou morra para assumir o
lugar", disse Flawbert.
Luiz José de Farias está internado desde o domingo (26) e fica sentado
em uma cadeira já que não há vaga nos leitos. "É muito desconfortável.
Ainda bem que já recebi alta", disse. Ele é da cidade de Orobó,
Pernambuco, e a vinda de pacientes de outras cidades e até outros
estados para o Trauma seria uma das razões da superlotação.
"Vem gente
de Patos, no Sertão, porque lá não está realizando cirurgias. Pode vir
de todo canto que nós atendemos, mas a demanda está muito grande", disse
o médico Palmerindo Mendonça.
Para melhorar um pouco a situação, a diretoria acabou com duas
enfermarias que funcionavam como celas para pacientes vindos de
presídios e com uma brinquedoteca da ala pediátrica para transformar em
enfermarias. Além das camas, as macas que são utilizadas para
transportar os pacientes dentro da unidade estão sendo deixadas nas alas
para atender a demanda.
Até as macas do Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu) ficam no hospital.
Como solução, o hospital fechou um convênio com o Hospital Pedro I que
emprestava 30 leitos à unidade, mas o atendimento não ocorre porque não
há médicos no hospital, segundo Flawbert.
Ele disse que até casos
psiquiátricos e oncológicos são encaminhados para o Trauma quando
deveriam ser remetidos para os hospitais Dr. Maia e a Fundação
Assistencial da Paraíba (FAP), respectivamente.
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Filas se formam com pacientes na entrada do bloco cirúrgico (Foto: Rafael Melo/G1) |
Segundo a médica Valéria Lucena, o problema está na saúde básica. "Os
casos deveriam ser tratados rigorosamente na Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) e nos Postos de Saúde da Família (PSFs). A questão é
que não há atendimento nem apoio laboratorial. Nunca tem médico e o
atendimento que existe é mal feito", denunciou.
Os médicos dos PSFs de Campina Grande estão em greve há mais de três
meses. O Tribunal de Justiça da Paraíba julgou ilegal o movimento e
determinou que os profissionais voltassem ao trabalho, mas a classe não
foi notificada e quase 200 mil pessoas que utilizam o serviço estão sem
atendimento nos bairros.
A secretária de saúde do município, Marisa
Agra, disse que tem uma proposta para a classe, mas que não pode
apresentar neste momento por conta do período eleitoral.
Para resolver a situação, o hospital marcou uma reunião com diretores de outros hospitais da cidade, com promotores do Ministério Público e representantes das secretarias de saúde do município e do Estado na próxima sexta-feira (31).
A Secretaria de Saúde do Estado informou que vai apresentar um projeto para solucionar os problemas nesta reunião. "O atendimento está travado. Então, se ficar com briga entre estado e município e nada for feito, o povo vai morrer", argumentou o presidente da Cooperativa dos Cirurgiões de Campina Grande, Jean Almeida.