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Com a condenação de Marcos Valério por cinco crimes no julgamento do
processo do mensalão, a defesa do operador do esquema de pagamento de
propina a parlamentares tenta demonstrar aos dez ministros do Supremo Tribunal Federal(STF) que os principais interessados na compra de apoio político no Congresso seriam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT).
Em
memorial de oito páginas distribuído nesta segunda-feira (22) aos
magistrados da Suprema Corte, o advogado Marcelo Leonardo, responsável
pela defesa deMarcos Valério,
enfatiza que o núcleo político da denúncia de corrupção "deslocou o
foco" das investigações dos protagonistas do esquema, entre eles Lula,
seus ministros e dirigentes do Partido dos Trabalhadores, para o
empresário mineiro. Nas três ocasiões em que cita o ex-presidente no
documento, o criminalista escreve o nome do petista em letras
maiúsculas.
"Assim, [...] relevantes seriam as condutas dos
interessados no suporte político 'comprado' (Presidente LULA, seus
Ministros e seu partido) e dos beneficiários financeiros (Partidos
Políticos da base aliada), sendo o PT, Partido dos Trabalhadores, o
verdadeiro intermediário do 'mensalão'", escreveu o defensor.
O G1 procurou a assessoria do ex-presidente Lula, mas até a publicação desta reportagem ainda não havia conseguido contato.
Para
Marcelo Leonardo, o cliente dele seria apenas o "operador do
intermediário", em uma referência direta ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares,
que, segundo o Ministério Público, é quem orientava Valério sobre quem
seria beneficiado com os pagamentos de recursos do chamado "valerioduto"
(esquema operado por Marcos Valério para pagar propina a parlamentares
em troca de apoio político ao governo Lula).
"Quem não era
presidente, ministro, dirigente político, parlamentar, detentor de
mandato ou liderança com poder político, foi transformado em peça
principal do enredo político e jornalístico, cunhando-se na mídia a
expressão 'valerioduto', martelada diuturnamente, como forma de
condenar, por antecipação, o mesmo, em franco desrespeito ao princípio
constitucional fundamental da dignidade da pessoa humana", ressaltou
Marcelo Leonardo no texto entregue aos ministros.
Marcos Valério
foi considerado culpado pela mais alta corte do país pelos crimes de
corrupção ativa, lavagem de dinheiro, peculato, evasão de divisas e
formação de quadrilha. A pena a que ele terá de cumprir será definida
pelos magistrados a partir desta terça (23), na chamada dosimetria.
Na
avaliação do advogado, a corte foi dura com Valério ao condená-lo por
quatro dos cincos crimes dos quais ele havia sido denunciado pela
Procuradoria-Geral da República (PGR). Na tentativa de atenuar a punição
do operador do mensalão, Marcelo Leonardo destacou no memorial que os
magistrados considerem, na hora da definição das penas dos réus
condenados, o fato de o cliente dele ter "colaborado" com as
investigações que descortinaram o esquema de compra de votos.
De
acordo com o criminalista, o empresário mineiro forneceu a lista e os
documentos que permitiram ao Ministério Público oferecer denúncia contra
40 pessoas.
"[Valério] Forneceu a lista de todas as pessoas que
receberam recursos financeiros, indicadas pelo PT, por intermédio de
Delúbio Soares, sendo que entre os quarenta denunciados, não há um só
beneficiário que não estivesse naquela lista", destacou Marcelo Leonardo
na peça judicial.