![]() |
(Sérgio Cabral,Lula e Eduardo Paes visitam Lula) (Ricardo Stuckert/Instituto Lula) |
Estrelas da investigação, que ganharam notoriedade atacando mensaleiros, hoje estão do lado petista: a conveniência política pesou
A crise do mensalão, que abalou e colocou em risco a continuidade do governo Lula em 2005, assumiu proporções tão grandes que o Palácio do Planalto não foi capaz de manter as rédeas sobre a investigação feita no Congresso em três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI).Foi nessa época, especialmente sob os holofotes da CPI dos Correios, que um grupo de parlamentares de oposição ganhou projeção nacional pelo rigor e pela artilharia contra a gestão petista. Sete anos depois, às vésperas do início do julgamento do maior esquema de corrupção já montado por um governo, alguns deles estão de mãos dadas com o PT em busca de votos.
Um dos melhores exemplos é o ex-tucano Eduardo Paes (PMDB), que
resolveu pegar carona na popularidade de Lula para se eleger prefeito do
Rio de Janeiro. Na época, Paes integrava a linha de frente da oposição
nas investigações da CPI dos Correios. Chegou a sugerir a volta dos
caras-pintadas às ruas, a exemplo das manifestações pelo impeachment de
Fernando Collor de Melo.
"Está na hora de os caras-pintadas da UNE (União Nacional dos
Estudantes), que recebem recursos vultosos, deixarem de fazer passeatas
vagas, como se o atual governo não tivesse relação com a corrupção",
afirmou o então deputado de oposição Eduardo Paes, no ápice da crise de
2005.
Passado o escândalo e garantidos os dividendos políticos da sua
exposição, o ex-tucano preferiu tomar outro rumo: aliou-se ao próprio
Lula, em 2008, com o objetivo de disputar a prefeitura do Rio. No
caminho de conversão ao lulismo, filiou-se ao PMDB pelas mãos do
governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Conveniência - A CPI também projetou no cenário
político outro deputado tucano: o paranaense Gustavo Fruet, sub-relator
da comissão. A ascensão foi tamanha que Fruet chegou a ser candidato à
presidência da Câmara respaldado pelo chamado "grupo dos éticos" da
Casa. Derrotado, ganhou respeito no seu partido e ocupou o cargo de
líder da minoria no Congresso até o final de 2010, quando tentou um voo
mais alto: o Senado Federal. Ficou em terceiro lugar, mas saiu das urnas
com mais de 2,5 milhões de votos - 200 000 votos a menos que Roberto
Requião (PMDB).
Sem mandato, Fruet encolheu no PSDB e não conseguiu maioria interna
para encabeçar uma chapa à prefeitura de Curitiba. Decidiu, então, mudar
de campo político, aderiu ao PDT e não resistiu à tentação de disputar
as eleições com o PT a tiracolo.
Em maio, o ex-tucano viajou de Curitiba para São Paulo para receber
pessoalmente a benção de Lula. Na saída do encontro, repetiu o discurso
de Eduardo Paes: “Na ocasião, assumi a postura que o momento exigia. Fui
contundente na investigação, mas nunca entrei em desqualificação
pessoal do presidente”.
A mudança de lado é usada diariamente pelos adversários de Fruet para
tentar desqualificar sua candidatura. "Cada um é guardião da sua
história. Exerci com total lealdade e dedicação o trabalho que fiz lá.
Muito do que está sendo utilizado hoje no processo teve por base o
trabalho da CPI", diz ele. "A gente tem de ter capacidade de preservar
as posições", defende-se.
Fruet afirma que sua aliança com o PT foi costurada com figuras que não
tiveram relação com o mensalão, como o casal de ministros Gleisi
Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Relator - Apontado em 2005 como um peemedebista
"independente", o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) recebeu uma
das tarefas mais árduas no turbilhão do mensalão: a relatoria da CPI
dos Correios, cujo manancial de documentos e revelações poderia fazer
com que o mandato do ex-presidente Lula terminasse mais cedo.
Na época, parte do PMDB ainda não havia aderido ao governo
petista. Hoje, Serraglio se vê confortável na base de apoio à presidente
Dilma Rousseff - a quem ele vê como mais rigorosa do que Lula no
combate à corrupção. O peemedebista trata com naturalidade a guinada de
parlamentares que, após atacar enfaticamente o PT durante o mensalão,
agora são entusiastas do petismo: "Não sei se é oportunismo. Eles se
tornaram peças importantes polticamente, porque foram valorizados pela
própria CPI, e a população identificou a luta deles contra a corrupção",
analisa.
A mudança de postura dos antigos algozes do PT faz parte de um processo
mais amplo: o do esvaziamento da oposição no Brasil. Em 2005, o governo
podia contar com pouco mais da metade do Congresso Nacional. Hoje, a
oposição controla apenas 17% da Câmara e 19% do Senado, menos de um
terço do Congresso, número insuficiente, por exemplo, para abrir uma
CPI.
Gabriel Castro
Veja.com
Gabriel Castro
Veja.com