O Assalto:
Quando alguns integrantes da Sambacana deixaram a terrinha para estudar fora, outros tiveram que sair para trabalhar, em busca da sobrevivência. Um desses, que não me autorizou a divulgar o nome, foi tentar a sorte em São Paulo.
Tempos depois, retornou, digamos, em situação financeira confortável: comprou casa, terreno, trouxe fogão, faqueiro, geladeira e, como não poderia deixar de ser, um rádio gravador daqueles bolachão, com tocador de fita cassete da melhor qualidade. Neste tempo, quem não voltasse de São Paulo com um desses, provocava logo um burburinho: “Esse cabra não veio de São Paulo não”.
Pois bem, mas nosso herói, para marcar sua volta, preparou uns comes e bebes e convidou os amigos para matar a saudade e colocar o papo em dia. Eis que, lá pras tantas, alguém perguntou?
– Mas me conte, lá foi tudo alegria mesmo?
– Rapai... Foi bom. Consegui minhas coisinhas, voltei com saúde... Só tem uma passagem que eu não gostei. Foi quando buliram na coisa que eu tinha mais ciúme no mundo. Mas deixa pra lá, hoje é dia de falar em coisa boa.
– Oxe! Aí é fogo! Começou, tem que terminar. Você deixou todo mundo curioso!
Depois de muita insistência, nosso herói começou o relato:
– Meus amigos, eu vinha voltando de uma farra, apenas com o vale transporte e sem uma roela no bolso, quando cinco maloqueiros apareceram e se anunciaram: ‘Ou o dinheiro ou a vida!’, e eu: ‘Eu não tenho nada, podem olhar a carteira’. Aí eles: ‘Passe o relógio!’, e eu: ‘Nunca tive’, eles de novo: ‘O sapato!’, e eu, sem pestanejar: ‘Pode levar, mas tá já se furando’, aí os bichos se enfezaram: ‘Sabe de um negócio? Esse baiano tá com palhaçada... Ou o fiofó ou a vida!’, aí eu quase tive uma turica: ‘O quê???’, e eles repetiram: ‘Ou o fiofó ou a vida!’. Meninos, antes de abrir a boca novamente, me deram um murro no pau da venta e eu caí. Passaram a me chutar e a bater por uns cinco minutos. Quando me levantei, pensando que ia embora, o sujeito mal encarado repetiu: ‘Ou o fiofó ou a vida!’, e eu: ‘O quê???’. Aí me deram uma pernada no peito e outra pisa bem dada, que eu fiquei todo quebrado. E toda vez que eu conseguia me levantar, o sujeito vinha com a mesma ladainha: ‘Ou o fiofó ou a vida!’. Minha gente, eu nunca apanhei tanto na minha vida...
– Mas, homi! E tu fizesse o que pra se livrar dessa?
– Morri, né?
Sérgio Bezerra
Giro Cariri