Vestibular de Engenharia
14 de setembro de 2011 | |
Efigênio Moura Era o comentário em Monteiro. Da Avenida Recife a Rua Olímpio Gomes. Na Rua do Arame, lá no São Vicente, se bandeando pro Parque de Vaquejada, o assunto crescia à medida que Jordana, apoiada em sua janela conversava e ampliava o feito para Valdomira, essa encostada na parede mal pintada da casa de nº 9: - O qui os povo fala é do neto de Váti Faria. O Fí de Júnin... - Fala o quê Jordana ? Ele imbuchô quem ? - Oxe! Imbunchô inda não. Ói, cumade Luzinete, quié da cuzinha de Seu Váti, contô qui o neto dele passô no vestibulá. - Passô ? - Foi. - Sózin ? - Nam, mulé! Cuma ruma de gente. Silencio para observarem o menino de Valdomira jogar uma briba no esgoto... Valdomira retornou ao assunto: - Deve de sê caro fazê faculdade, visse? Óvi dizê qui Rubelania tá cás mão na cabeça...Só véve peorcupada e rezano... - Madalena, minha irmã tem 75 % dum tá de Fies. Num se aperta muito não... - Grande coisa Jordana, a igreja dos crente tem muito mais qui isso e mermo assim nem ta peorcupada... - Oxe, e o qui uma coisa tem a vê cá ôta ? - Né tudo Fié ? - Vamo muda de assunto qui desse tu num intede não...Perai. Jordana esticou-se até o sofá e de lá pegou uma almofada vermelha e felpuda em formato de coração com o escudo do Campinense no meio, a colocou na janela se apoiou nela e liberou a voz: - Teve uma briga da gota com Netin lá no mêi de Récife. - E foi ? - Foi. - Só pruquê ele passô no vsetibulá? Ô povo invejoso... - Foi purisso não mulé, foi outra coisa muito már pió. - Vigiiiiii. - Apôi ele ganhô de presente de Seu Valti , o avô qui nunca tumô uma, um terno Diagonal da Torre. Todo Branquin. Camisa branca cum quáto bolsin e carça branca... - Devi de tê ficado um pão! - Apô o minino foi todo de branco, parecia inté uma vela , chegano lá na Pracinha do Diáro, né qui ele se abestaiô cum caba qui fazia as coisas desaparecê ? - Foi mermo? - Ele lá, todo de branco, abestaiado cás coisa qui o homi fazia, de repente o homi espiô p’êle e diche mermo assim: “Voce rapaizin de branco vem cá”. Varti Neto foi e quano chegô perto do homi ele danô uma tinta azul violeta in riba da rôpa do minino, qui ficô aguniado e nelvoso... - Eita bixiga, do jeito qui Junin num é brabo, vai dá uma surra no minino... - E apôi ? O disispero armentô quano o homi se afastô-se dele e ficou falano duma coisa qui ele num tava intendeno, e passava a mão in riba da tinta, a roupa bem branquinha, cá mancha do tamain do mundo, todo mundo ispiano pra ele, ele si abofano, e chamava o homi, e o homi nem chite! E ele quereno ir simbora e num podia pro causa da mancha... - Agonia da mulesta Jordana, conte logo tudo . - Ai Netin falô, endureceno o talo, ispiano pro homi: “ Vô ligar pra Ti Veronilton...tu vai se lascá vendedô da mulesta...tu vai vê... - E antão ? - Mulé, parece qui foi o nome de Jesui qui o minino diche, acho qui o vendedô sabia da fama de brabo de Seu Veronilton e chegô perto de Netin e diche assim: “ cum esse produto vou alimpá a rôpa desse elegante minino que parece qui é fio de Paraibano”.E espaiô na merma rôpa, no locá da mancha um produto qui ninguém sabe o quié, o certo é qui ficou tudin branquin cuma tava antes, só mei muiado, már ficô limpim.... Varti Neto adispois se desinbestô no meio do mundo e nunca mais parô in roda de gente , mermo sendo na Pracinha do Diáro.. Silencio entre as duas. Agora observam displicentemente o menino de Valdomira acocorado, fazendo um açude com as mãos na tentativa de aparar qualquer agua que ouse por ali passar. Valdomira comentou: - Só seio qui quano Ademilton Junior fô fazê a faculdade num vô deixa ele ir pra Récife não... Dito isto, desceu a calçada e pegou o filho pela mão, rumou em direção a sua casa: - Ramu simbora meu engenheirin. Bichin já sabe fazê açudim! ( contato@efigeniomoura.com.br) |