A ala feminina está engrossando as estatísticas dos
foragidos da Justiça no Rio de Janeiro. Segundo o Disque-Denúncia, o
número de mulheres que tem seu rosto estampado como procuradas chegou a
oito, o maior desde que o serviço foi criado.
O destaque entre elas é
Heloísa Borba Gonçalves, a Viúva Negra. A recompensa por informações que
levem à sua captura é de R$ 11 mil, a maior entre todos os 288
procurados de ambos os sexos.
Para estipular o valor da recompensa, o Disque-Denúncia leva em conta
a relevância social da captura, que pode estar relacionada à
periculosidade ou ao clamor popular provocado por suas ações. Os
recursos vêm de doções da iniciativa privada. Mas o interesse pelo
dinheiro é muito pequeno.
“O interessante é que pouca gente vai buscar a recompensa. Em certas
ocasiões fica fácil identificar de onde veio a denúncia que levou à
prisão, mas ninguém reivindica o valor. Tem o fator medo, mas acho que o
que move mais as pessoas é a indignação, é ajudar a polícia no combate
ao crime”, avaliou Zeca Borges, superintendente do Disque-
Denúncia.
Crimes das mulheres são diversos
O número crescente de mulheres no rol dos foragidos veio do
cruzamento de informações. “Com o passar do tempo, durante as buscas de
alguns criminosos, observamos a presença de mulheres envolvidas com o
crime. Daí, passamos a buscar com as autoridades mandados de prisão e
informações sobre elas”, disse Zeca Borges.
Entre as procuradas estão assassinas, ladras, traficantes e
estelionatárias. Há também o retrato falado de uma mulher acusada de
deixar a filha recém-nascida na porta de um bar, em Itaboraí.
A folha de antecedentes criminais mais extensa, que justifica a alta
recompensa, é a de Heloísa, a Viúva Negra, assim chamada por causa das
acusações de ter matado alguns de seus ex-companheiros.
Viúva Negra, 62 anos, responde a processos por quatro homicídios e
duas tentativas de homicídio. Também já foi condenada a quatro anos e
meio de prisão pelos crimes de bigamia e falsidade ideológica.
A foragida é acusada de ter matado o militar Jorge Ribeiro, com quem
era casado, em 1992, para ficar com seus bens. Antes, casou-se ao mesmo
tempo com o comerciante aposentado Nicolau Saad, que morreu pouco tempo
depois. Usou uma antiga procuração de Saad para transferir bens do
falecido e acabou condenada por falsidade ideológica.
Em 2011, foi condenada a 18 anos pelo homicídio de Jorge Ribeiro, após faltar a quatro julgamentos.
Ela também é acusada de matar o ex-namorado Wargih Murad, que teria
descoberto seu passado nebuloso, e o pedreiro que o acompanhava. É
suspeita ainda de ter executado o filho de Wargih, Elid Murad, e de
mandar matar o detetive contratado por ele para investigar a morte do
pai.
Em 1983, já havia tido marido morto, após casamento com pacto
nupcial. Na época, o crime foi registrado como latrocínio (roubo seguido
de morte), e por isso não chegou a ser processada.
Procurados do segundo escalão
Do lado masculino, figuram na lista de mais procurados os chefes do
tráfico conhecidos como Pezão, Marcelo Piloto, Menor P, Guaguinho, e
Scooby dos Macacos. Para a captura de cada um deles, a recompensa tem o
mesmo valor: R$ 2mil.
O criminoso com a maior oferta de recompensa, de R$ 5mil, é o
miliciano Carlos Ari Ribeiro, o Carlão. A captura de outro miliciano,
Toni Ângelo Souza Aguiar, o Toni Ângelo, vale R$ 1 mil.
“Neste momento não existe ninguém do primeiro escalão”, afirmou Zeca Borges.
Nem todos os procurados têm recompensa para sua captura. O maior
valor já oferecido pelo Disque-Denúncia, de R$ 100 mil, foi referente a
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. A quantia não chegou a
ser paga porque sua prisão não foi realizada através de informações
fornecidas ao serviço.
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O segundo valor mais alto, de R$ 50 mil, foi para encontrar Paulo
César Silva dos Santos, o Linho, durante muito tempo o chefe do tráfico
mais procurado do Rio. Como a polícia desconhece até mesmo se ele está
vivo, deixou de constar na lista de procurados do Disque-Denúncia.
Zeca Borges ressalta a parceria que existe entre a entidade e a
Secretaria de Estado de Segurança, que dá a palavra final sobre
recompensas e alimenta o programa com informações. Zeca explica que,
além das contribuições, uma família de vítima pode doar diretamente o
dinheiro para a prisão de alguém específico. É o caso da Viúva Negra,
cujos parentes dos Murad foram os responsáveis pela polpuda recompensa
de R$ 11 mil.