Após
assistir ao Jornal Nacional observei que um bom tempo do referido
noticiário foi para mostrar e falar sobre o sofrimento, o desespero, das
vítimas das enchentes ,no Rio de Janeiro. Os apresentadores e
repórteres, quase com vozes embargadas e olhos lacrimejados, falaram
sobre o grito de dor de centenas de cariocas. Após seu término, fiquei a
pensar: nesta hora, o Brasil está comovido, chorando. Sensibilidade
brasileira à flor da pele!
Uma enchente só, num só dia, com seus
efeitos catastróficos, leva a grande Mídia a dar repercussão nacional,
consequentemente levando as autoridades estaduais e federais a agirem
rapidamente e,ao mesmo tempo, o povo brasileiro ao sentimento de
compaixão,de solidariedade.Nada contra,pelo o contrário!
Eis o meu desabafo:
Há mais de ano que a seca no sertão
nordestino vem atuando ferozmente, deixando seu rastro de devastação, de
morte, e a grande mídia parece ignorar essa tétrica realidade.
Sede, fome, miséria, mortes. Milhares
de seres humanos clamando pungentemente por água e pão, mas não há
comoção nacional e nem internacional. Reina o silencio governamental, a
sociedade se omite e a grande Mídia nada fala.
Vejo o drama angustiante e desesperador
dos sertanejos. Ouço seus clamores. Sinto sua voz embargada e olhos
lacrimejados. Todos pedem socorro, mas as autoridades e segmentos
representativos da sociedade civil parecem surdos.
O sertão seco, torrado, sob sol
causticante, se agoniza, mas as chuvas não vêm. O sol brilha forte e
queima, como a dizer: “o sertanejo é, sobretudo, um forte”, aguenta
tudo.
Pais de famílias desesperados esperam pelas mãos generosas, solidárias, dos que têm bom coração.
Pequenos criadores assistem
passivamente seus rebanhos serem dizimados pela fome e sede. O sertão
virou um verdadeiro céu aberto de animais mortos. Os abutres fazem
festas. É a festa da carniça. É um deus nos acuda!
Açudes, barragens, riachos e poços
secos, causando verdadeiro pavor e sensação de que a sede vai matar
milhares de sertanejos. O governo age com sua eterna e oportunista
política paliativa. Solução, nada!
Os mananciais esperando as águas do
velho Chico, através da transposição, mas o governo diz que a Copa 2014 é
prioridade. E viva os estádios, vilas olímpicas, as classes
empresariais, os atletas com seus milhões de reais. E a seca continuará
catingando.
Após assistir ao Jornal Nacional, absorto nos meus pensamentos, questiono:
Por que a seca que tanto castiga,
mata, não tem espaço demorado na grande Mídia? Por que não causa comoção
nos jornalistas e em todo o país?
Por que os apresentadores de
telejornais não falam com voz embargada sobre as vítimas da seca, que
sofrem com a sede e a fome? Nenhuma sensação de dor, de compaixão, de
sensibilidade humano-cristã. Por quê?
O sudeste se acabando com água, o
sertão nordestino, com seca. Aquele, socorrido de imediato pelas as
autoridades governamentais, divulgado, chorado, causando comoção
nacional e internacional; este, coitado, esquecido, ignorado, quase
socorrido com as eternas esmolas dos governos e da sociedade.
Meu sofrido e desolado sertão,não o
deixarei,farei de tudo para “enxugar suas lágrimas” que clamam por
socorro, por vida, e vida em abundância.
Sou pequenino, mas a vontade de lutar
pelo meu sertão é do tamanho das inércias do poder público e da
insensibilidade da sociedade e das grandes mídias.
Estou contigo, sertão!
Padre Djacy Brasileiro, em 03 de janeiro de 2013.
Twitter: @padredjacy
|